Um giro ao sol,ciranda poética

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Tagore

O peixe na água é mudo,
o animal na terra é ruidoso,
o pássaro no ar é cantor.
Mas o Homem leva em si
o silêncio do mar,
...o barulho da terra
e a música do ar.
O mundo se precipita
pelas cordas do
coração hesitante,
compondo a música
da tristeza.
A Sombra, de face velada,
segue a Luz com
secreta humildade,
com silenciosos passos de amor.
As estrelas não temem
parecer vaga-lumes.
O entendimento agudo
e sem amplidão perfura tudo,
mas não move nada.
Tagore


Minha Estrada



Eu não sou mais a mesma mulher
Hoje eu não fico mas perdida...
Encontrei o amor
...e quem o encontra, encontra sua luz.

Oh, como é bom estar completa...
Encontrei a solução de todas buscas infrutíferas
Todos meus instintos retornaram
quando alcancei meu interior.

Minhas estrelas se acalmaram:
Brilham para um só ser.
Sua luz cresce com a minha
E juntos iluminamos nossos caminhos...
A missão se torna clara e ela nos levará para longe.

Oh, como é bom transbordar...
Nessa manhã, igualmente bela, vejo que pisamos as mesmas folhas
A relva que guardei para mim, hoje te entrego
Vou dizendo isso com suspiros e com os olhos altos.

Tantas estradas apareceram nessa caminhada
Escolhi a deste amor
E esta, fez toda a diferença.

(((Carolina Salcides)))
 
 

O Meu Amor é Sagrado

O Meu Amor é Sagrado...
Consagrado.
Concebido em Lua Cheia...
Fortecedido em todas elas.
Em em Todos os Dias que se seguem...
...
Ele é meu Mistério e Minha Força.
Eu sei que não devia,
Mas eu mato por Amor...
Mesmo! (Por Esse Meu Amor).
Só por ele, ninguém Mais.
Como uma Felina defendendo suas crias
Defendendo seu Macho, seu Território.
Eu defendo Meu Amor.

O que é meu é Sagrado.
E morreria por ele também.
Daria o Sangue e a carne e os ossos...
Daria toda a minha força para salvá-lo
Daria meu olhos para guiá-lo
Eu me daria toda para Ele.

E eu me dou.
Porque Ele, sou Eu.
E Eu, sou Ele....
Nós somos Um.
Amantes Antigos
Somos Estrelas... Energia Divina.
Ele é parte Sagrada de Mim.
Ele é o que em mim Vibra.
Dói nele, dói em mim.
Sua alegria, é a minha.

O Meu Amor é o meu motivo
Meu labirinto, minha saída.
É o caminho e o Alvo.
O Meu Amor é meu Deus
Minha fé
Minhas Asas...
Minha Raíz na Terra.

Carolina Salcides
 
 

Silêncio

Eu tenho um silêncio em mim que é so meu
E que sempre fala comigo pelas manhãs quando estou só.

E há murmúrinhos doces
E há palavras de amor em sua vóz.
...
Quando ele me chama, fecho os olhos
E deixo que me conduza ao mesmo lugar que a dedicação me doou.

E assim ali eu sou!
Um alma sem fenda que me distingua
Ou falo que se me imponha.

Em meus olhos apenas fagulhas de gênero olham
E se encatam com os rosas e brancos e negros que a luz filtra.

Na pele do mundo do silêncio que é só meu
Eu sou!

E me calo para ouvir-lhe a voz suprema que há em mim.

Tili Oliveira
 
 

Amor

Agora estamos mais perto
Escutando o céu e o que ele tem para nos dizer
A estrada não é mais um deserto
E tudo que temos a fazer,
É seguir.....
......
Podemos sonhar todas as noites
Ver a lua nascendo, caminhar juntos sob as estrelas....
Nós sabemos encontrar a magia, sem limites...
A cada dia uma nova colheita
Vamos sair e sentir o caminho......

Quando duas almas afins se encontram os sinos tocam
Flores caem do alto, folhas, borboletas....
Você percebe os sinais...
O caminho é claro
Os sonhos iguais...

O amor fica enquanto há luz
Há celebração e encantamento
A poeira se acumula por caminhos não percorridos e cantos não visitados....

Dance comigo, todas as noites
Por todos os cantos enquanto estivermos acordados
E dormindo, por todos os meus sonhos.

Carolina Salcides


HOJE


Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito
Nem que seja só pra te levar pra casa
Depois de um dia normal...
Olhar teus olhos de promessas fáceis
E te beijar a boca de um jeito que te faça rir
...(que te faça rir)

Hoje eu preciso te abraçar...
Sentir teu cheiro de roupa limpa...
Pra esquecer os meus anseios e dormir em paz!

Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua!
Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria...
Em estar vivo.

Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar...
Me dizendo que eu sou o causador da tua insônia...
Que eu faço tudo errado sempre, sempre.

Hoje preciso de você
Com qualquer humor, com qualquer sorriso
Hoje só tua presença
Vai me deixar feliz
Só hoje

(solo)

Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua!
Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria...
Em estar vivo.

Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar...
Me dizendo que eu sou o causador da tua insônia...
Que eu faço tudo errado sempre, sempre.

Hoje preciso de você...
Com qualquer humor, com qualquer sorriso!
Hoje só tua presença...
Vai me deixar feliz.
Só hoje...

O vento


Voe por todo mar e volte aqui
Voe por todo mar e volte aqui
Pro meu peito...

Se você for, vou te esperar
...Com o pensamento que só fica em você

Aquele dia, um algo mais
Algo que eu não poderia prever
Você passou perto de mim
Sem que eu pudesse entender
Levou os meus sentidos todos pra você

Mudou a minha vida e mais
Pedi ao vento pra trazer você aqui
Morando nos meus sonhos e na minha memória
Pedi ao vento pra trazer você pra mim

Vento traz você de novo
O Vento faz do meu mundo um novo
E voe por todo o mar e volte aqui
E voe por todo o mar e volte aqui
Pro meu peito...

Vento

"tudo vem do vento,
dovento,
doventovemtudo....

alimenta o fogo
...atormenta o mar
arrepia o corpo
joga o ar no ar
leva o barco à vela
levanta lençóis
entra na janela
leva minha voz
nuvens de areia
folhas no quintal
canto de sereia
roupas no varal

tudovemdovento,
tudo vem do vento,
do vento vem tudo..

sacode a cortina
alça os urubus
sai pela narina
canta nos bambus
cabelo embaraça
bate no portão
espalha fumaça!
varre a plantação
varre o pensamento
deixa o som chegar
leva esse momento
traz outro lugar

tudo vem do vento,
tudo vem,
do ventovemtudo!
tudovemdoventodoventovemtudo!"


UNO

"As minhas mãos mantêm as estrelas,
Seguro a minha alma para que não se quebre
a melodia que vai de flor em flor,
Arranco o mar do mar e ponho-o em mim
E o bater do meu coração sustenta o ritmo das coisas."
...
(Sophia de Mello Breyner)
 
 

Quem dera...

Quem dera
menina
diante do céu
contar estrelas
nos dedos
...como se contam
os dias que findam
um ano...
Mas a menina soma
estrelas nas mãos
O tempo pra ela
é mero encantamento
que separa o dia e a noite
da realização
dos sonhos.

(Sirlei L. Passolongo)


TE AMO



Sobre todas as coisas, te amo
Te amo por tua beleza, cravejada de ouro e cinzas

...Te amo por esta branda fúria que trazes no olhar,
que quando não me fuzilas,
me elevas ao último céu

Te amo pelo desespero que me provocas,
e por esta repentina paz que me despertas,
pouco antes de minha morte

Te amo por nunca me ouvires quando te chamo,
e por estares sempre presente,
quando menos te quero

Te amo por tuas mentiras mal contadas,
das quais, por vezes faço questão de acreditar,
e pela incredulidade que me fazes sentir,
diante das tuas mais obscenas verdades ...

Por fim,te amo, porque é só o que sei fazer;
te amo simplesmente pelo que tu és,
e pelo que nunca fostes.
 
 

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Fernando Pessoa

Deixei atrás os erros do que fui,
Deixei atrás os erros do que quis
E que não pude haver porque a hora flui
E ninguém é exato nem feliz.
Tudo isso como o lixo da viagem
Deixei nas circunstâncias do caminho,
No episódio que fui e na paragem,
No desvio que foi cada vizinho.
Deixei tudo isso, como quem se tapa
Por viajar com uma capa sua,
E a certa altura se desfaz da capa
E atira com a capa para a rua.

[Fernando Pessoa]

Vinicius de Moraes

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar [ extático da aurora.
Vinicius de Moraes

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Quem pagará o enterro e as flores, Se eu me morrer de amores? Quem, dentre amigos, tão amigo Para estar no caixão comigo? Quem, em meio ao funeralDirá de mim: — Nunca fez mal...Quem, bêbado, chorará em voz alta De não me ter trazido nada?Quem virá despetalar pétalasNo meu túmulo de poeta?Quem jogará timidamenteNa terra um grão de semente?Quem elevará o olhar covardeAté a estrela da tarde?Quem me dirá palavras mágicas Capazes de empalidecer o mármore?Quem, oculta em véus escurosSe crucificará nos muros?Quem, macerada de desgostoSorrirá: — Rei morto, rei posto...Quantas, debruçadas sobre o báratroSentirão as dores do parto?Qual a que, branca de receioTocará o botão do seio?Quem, louca, se jogará de bruçosA soluçar tantos soluçosQue há de despertar receios? Quantos, os maxilares contraídosO sangue a pulsar nas cicatrizesDirão: — Foi um doido amigo...Quem, criança, olhando a terraAo ver movimentar-se um verme Observará um ar de critério?Quem, em circunstância oficialHá de propor meu pedestal?Quais os que, vindos da montanhaTerão circunspecção tamanhaQue eu hei de rir branco de cal?Qual a que, o rosto sulcado de ventoLançara um punhado de sal Na minha cova de cimento? Quem cantará canções de amigoNo dia do meu funeral? Qual a que não estará presentePor motivo circunstancial?Quem cravará no seio duroUma lâmina enferrujada?Quem, em seu verbo inconsútilHá de orar: — Deus o tenha em sua guarda.Qual o amigo que a sós consigoPensará: — Não há de ser nada...Quem será a estranha figuraA um tronco de árvore encostadaCom um olhar frio e um ar de dúvida?Quem se abraçará comigo Que terá de ser arrancada?Quem vai pagar o enterro e as floresSe eu me morrer de amores?

Vinicius de Moraes

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

PREPARAÇÃO PARA A MORTE




A vida é um milagre.
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu voo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
O tempo, infinito,
O tempo é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
- Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.

Manuel Bandeira
In Estrela da Vida Inteirta


DEUS-JÁ-VI

Foi numa praia em preto-e-branco
Numa noite expressionista
Sim, eu quase me lembro bem
Foi na época do meu primeiro monólogo com
deus(?)
Eu gritava e ele não respondia
Apenas me olhava
E eu andava calçado na água salgada
Um grito me acordou
E vi-me num sonho redondo e simétrico
"Socorro," gritou o que fui
De leve esbarrando no que sou
Torci para não ser reconhecido
Mas na multidão de eus,
Fui eu o escolhido
Cortei-me fundo, procurando uma veia
Mas só achei um veio de mercúrio
E eu estava longe, muito longe
Longe demais para gritar:
Morte, riso, planta, mulher
deus seja aquilo que eu o quiser!


Eduardo B. Penteado

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Eu te amo

Eu te amo como a violência das manhãs chuvosas
E a calma de um sábado.
Eu te amo como a madrugada desvirgina a noite
E como o céu guarda a lua.
Eu te amo sem razão e sem objetivo,
Sem começo nem meio.


Meu poema é uma oração que procura sua boca,
Que vasculha seu corpo.

Meu amor é simples e louco,
A pincelada amarela de Van Gogh,
A nota perdida de um tango de Piazzolla,
A palavra caída de Vinícius.

Eu te amo como o mortal
Que guarda a infinitude da solidão.
E te amo tão total e loucamente
Que você não nota,
Não sente.

Ah, se você pudesse sentir esse amor
E me mergulhar a cada instante,
Saberia, enfim,
Que se morre de amor
Para ter vivido.
 
Cássia Janeiro.
 
 
 

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Drumundana






e agora maria?

o amor acabou
a filha casou
o filho mudou
teu homem foi pra vida
que tudo cria
a fantasia
que você sonhou
apagou
à luz do dia

e agora maria?
vai com as outras
vai viver
com a hipocondria



 Alice Ruiz


quinta-feira, 25 de novembro de 2010

OS POEMAS

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti... 


GÊNESIS

No Princípio era o Caos.
E então, veio a Luz.
A Luz se fez Verbo,
a Palavra Mágica se fez
coisa, corpo, carne.
E Deus criou a mulher,
e o homem a amou.
O céu se cobriu de Orgia,
pariram-se anjos e demônios.
E, por isso e nesse instante
e para sempre, nasceu,
soberana, a Poesia.



Santa Poesia

ave poesia
cheia de graça
o verso é convosco,
bendita sois vós
entre as palavras,
bendito o fruto
do vosso ventre:
poema

santa poesia
mãe das artes
rogai por nós poetas
agora e na hora do agouro

*******************

poema nosso
que estais no céu,
versificada seja
vossa estrofe,
seja feita
vossa vontade,
assim na tela
como no papel

o verso nosso
de cada dia
nos dai hoje,
perdoai as nossas
reticências,
assim como nós
perdoamos
os pontos finais.
não nos deixeis
cair em 'ão',
mas livrai-nos
das interrrogações

amem

by Clauky Boom


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ENTRE PARTIR E FICAR

Entre partir e ficar hesita o dia,
enamorado de sua transparência.

A tarde circular é uma baía:
em seu quieto vai e vem se move o mundo.

Tudo é visível e tudo é ilusório,
tudo está perto e tudo é intocável.

Os papéis, o livro, o vaso, o lápis
repousam à sombra de seus nomes.

Pulsar do tempo que em minha têmpora repete
a mesma e insistente sílaba de sangue.

A luz faz do muro indiferente
Um espectral teatro de reflexos.

No centro de um olho me descubro;
Não me vê, não me vejo em seu olhar.

Dissipa-se o instante. Sem mover-me,
eu permaneço e parto: sou uma pausa.

Octavio Paz

MOVIMENTO

Se tu és a égua de âmbar
eu sou o caminho de sangue
Se tu és o primeiro nevão
eu sou quem acende a fogueira da madrugada
Se tu és a torre da noite
eu sou o cravo ardendo em tua fronte
Se tu és a maré matutina
eu sou o grito do primeiro pássaro
Se tu és a cesta de laranjas
eu sou o punhal de sol
Se tu és o altar de pedra
eu sou a mão sacrílega
Se tu és a terra deitada
eu sou a cana verde
Se tu és o salto do vento
eu sou o fogo oculto
Se tu és a boca da água
eu sou a boca do musgo
Se tu és o bosque das nuvens
eu sou o machado que as corta
Se tu és a cidade profunda
eu sou a chuva da consagração
Se tu és a montanha amarela
eu sou os braços vermelhos do líquen
Se tu és o sol que se levanta
eu sou o caminho de sangue

Octavio Paz
In Salamandra

SEMÂNTICA

Não se enganem comigo:
se digo sul pode ser norte,
chego mas fico ausente,
o triste é também o belo,
procuro o que não se perde
nem se pode encontrar.

Buscar resposta nos livros
é esconder-se entre linhas.
Não creio no que se enxerga,
mas nisso que se disfarça
por mais que se tente olhar:
assim me tem seduzida.

Eis o jogo que eu persigo,
meu jeito de ser feliz,
o desafio que me embala:
sempre que escrevo "morte"
estou falando da vida.

Lya Luft
In Para Não Dizer Adeus

CLANDESTINO

vou falar por enigmas
apagar as pistas visíveis
cair na clandestinidade.
descer de pára-quedas
/camuflado/
numa clareira clandestina
da mata atlântica.

já não me habita mais nenhuma utopia
animal em extinção,
quero praticar poesia
- a menos culpada de todas as ocupações.

já não me habita mais nenhuma utopia.
meu desejo pragmático-radical
é o estabelecimento de uma reserva de ecologia
- quem aqui diz estabelecimento diz escavação -
que arrancará a erva daninha do sentido ao pé-da-letra,
capinará o cansanção dos positivismos e literalismos,
inseminará e disseminará metáforas,
cuidará da polinização cruzada,
cultivará hibridismos bolados pela engenharia genética,
adubará a dosagem adequada de calcário,
utilizará o composto orgânico
excrementado
pelas minhocas fornicadoras cegas
e propagará plantas por alporque
ou por enxertia.

já não me habita mais nenhuma utopia.

sem recorrer
ao carro alegórico:
olhar o que é,
como é, por natureza, indefinido.
quero porque quero o êxtase,
uma réplica reversora da república de Platão
agora expulsando para sempre a não-poesia
da metamorfose do mundo.

já ão me habita mais nenhuma utopia.
bico do beija-flor suga glicose.
no camarão
em flor.

Waly Salomão
In Lábia

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Confissão


Continuo escrevendo pra você...

certo que, bem menos.
menos tempo
menos entusiasmo
menos amor
mais cansaço.

Entretanto, conservo-o
vivo e quente na memória
da pele, do cheiro, do tato.

Certo...
Cada vez menos reticências,
carências e síndromes de abstinências-
que ratificam a espera impugnada;
os laços em nós, desatados.

Não sinto mais ausência nem
dor;
Só apuro os fatos, e ...sem querer,
novamente me delato:

Sim, eu ainda te amo!

Lúcia Gönczy

O amor é como uma ponte suspensa

O amor é como uma ponte suspensa: são precisos dois bons apoios para a ponte aguentar.
Mas quem não quer construir pontes nunca chegará à outra margem.
Há quem prefira o abismo do que a entrega e descoberta.

http://oladocultodamarciana.blogspot.com/


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

MADRIGAL MELANCÓLICO

O que eu adoro em ti
Não é a tua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela de fragilidade e incerteza

O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Não é o teu espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz

O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai

O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
O que eu adoro em ti é a vida.

Manuel Bandeira
In O Ritmo Dissuluto

A HOMENAGEM

Minha sombra no chão:
a homenagem do sol
à minha solidão.

Lêdo Ivo
In Curral de Peixes

ANIMAL DE LUZ

SOU NESTE sem fim sem solidão
um animal de luz encurralado
por seus erros e pela sua folhagem:
grande é a selva,: aqui meus semelhantes
pululam, retrocedem ou traficam,
enquanto eu me retiro acompanhado
pela escolta que o tempo determina:
ondas de mar, estrelas da noite.

É pouco, é bastante, é escasso e é tudo.
De tanto ver meus olhos outros olhos
e minha boca de tanto ser beijada,
de haver tragado a fumaça
daqueles trens já desaparecidos,
as velhas estações desapiedadas
e o pó das incessantes livrarias,
o homem eu, o mortal, fatigou-se
de olhos, de beijos, de fumo, de caminhos,
e de livros tão mais densos que a terra.

E hoje no fundo do bosque perdido
escuta o rumor do inimigo e foge
não dos outros mas sim de si mesmo,
dessa conversação interminável
do coro que cantava junto a nós
e do significado desta vida.

Por uma vez, porque uma voz, porque uma
sílaba ou o transcurso de um silêncio
ou o som insepulto da onda
me deixam frente à verdade,
e não há nada mais para decifrar,
nada mais para falar: era tudo:
e fecharam-se as portas desta selva,
circula o sol abrindo suas folhagens,
e sobe a lua como uma fruta branca
e o homem se acomoda ao seu destino.

Pablo Neruda
In Jardim de Inverno

domingo, 21 de novembro de 2010

"Oração à Vida"

“Tão certo quanto o amigo ama o amigo,
Também te amo, vida-enigma-.
Mesmo que em ti tenha exultado ou chorado,
Mesmo que me tenhas dado prazer ou dor.

Eu te amo junto com teus pesares,
E mesmo que me devas destruir,
Desprender-me-ei de teus braços
Como o amigo se desprende do peito amigo.

Com toda força te abraço!
Deixa tuas chamas me inflamarem,
Deixa-me ainda no ardor da luta
Sondar mais fundo teu enigma.


Ser! Pensar milênios!
Fecha-me em teus braços:
Se já não tens felicidade a me dar -
Vamos, ainda tens tua dor.”

Lou A.-Salomé 1880
à F. Nietzsche para ser musicado por ele.

Viver Sem Poesia

Viver sem poesia
é funeral à espreita
é dor maior do que a chama da intensidade
que me arde
sempre, por inteira.

Viver sem poesia
é achar um sentido
para o movimento das nuvens
é desmanchar minha loucura
que me aprisiona,
deliciosamente,
por inteira.

Viver sem poesia
é matar minhas paixões
com normopatia
é aniquilar meu não saber,
ambiguidades
fragilidades
que me inquietam
por inteira.

Se sou
sou porque sofro
ao pensar
nas letras a dançar que ainda estão pra serem escritas.
se sou
sou porque sou ardente
por inteira.

Ana Perissé

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Na meia noite de todos os meus medos

Espalho um canto de amor e febre. Efervescência de poro sexuado, de gênese onde deslizam profundas origens, vegetais internos, fibras, frutas, outonos e delicadeza. Um canto de luz, de alma e estrelas onde extravaso escrava, amarrada a grilhões e posso literalmente ser eu mesma, dentro de todos os meus desajustes. Onde bordo historias de distancias impossíveis, indolente, cheia de fios, incandescências e lagartixas, a espicharem-se nas paredes do quarto, cheias de transparências e veias. Onde improviso cores, cheia de arco-íris nos lençóis, de cantos, na meia noite de todos os meus medos. Onde ando só e farta de vínculos, sem resistências. Onde me crescem as mãos e os sonhos, que renovo constantemente visitando carrascos que me incorporam e me açoitam diariamente, planetas, magos e todas as ilusões. Onde deixo, um certo jeito meu, meio quente, suculento, farto e cheio de doçura. Um jeito meio dolorido, meio sofrido,cheio de cílios, de olhos e sentimentos náufragos, todos eles, sem uma falsa moral, sem hipocrisia, sem ares de santa, apenas alguns conhecimentos de origem profunda que me foi passado nas vias da vida, bebendo suores e sangue. Um canto de vida, de morte, de ar, de névoa, de sentimentos que me invadem e se projetam no papel, se enroscam feito um gato que me sobe a cabeça e se espalha, meio esbaforido e mia cheio de pelos, unhas e pernas. Sensações que me movimentam como chuva, como grito, como escândalo, se abrem, se enroscam e deixa quente. Sentimentos vivos de tanta febre, tantas garras e presas. Sentimentos graves, herdado, suado, transposto, aceito! Espalho um certo canto pelo ar... (mara araujo)


A verdade

A verdade

A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade



quarta-feira, 17 de novembro de 2010

INSPIRAÇÃO

 

                                                                                                                                                               Inspira- te em coisas belas,
                                                                                                                                                               ou naquelas que cabem inspirar- te.
                                                                                                                                                               Inspira- te com o silêncio da tua alma,
                                                                                                                                                               Inspira- te do nada, do vazio;
                                                                                                                                                               mas inspira- te.
                                                                                                                                                               Inspira- te e respira o ar da vida
                                                                                                                                                               que muitas e muitas vezes,
                                                                                                                                                               haverás de sentir o mesmo frescor,
                                                                                                                                                               o mesmo alívio,
                                                                                                                                                               como quando jorras e deixas fluir                 
                                                                                                                                                               o que pede a tua alma.
                                                                                                                                                               Esse é um momento teu,
                                                                                                                                                               eternamente teu.
                                                                                                                                                               Para que possas comunicar
                                                                                                                                                               com almas mais crescidas,
                                                                                                                                                               com almas que se falam,
                                                                                                                                                               sem que tenham o corpo presente.
                                                                                                                                                               Inspira- te e vivifica cada vez mais
                                                                                                                                                               por inspirar- te.
                                                                                                                                                               Esse dom é belo,
                                                                                                                                                               o momento iluminado;
                                                                                                                                                               e também te pertence.

                                                                                                                                                                                                    Lidia Lievore.


Cecília Meireles.


         

            Não faças de ti
            Um sonho a realizar,
            Vai.
            Sem caminho marcado.
            Tu és o de todos os caminhos.
            Sê apenas uma presença.
            Invisível presença silenciosa.
            Todas as coisas esperam a luz,
             Sem dizerem que a esperam.
            Sem saberem que existe,
            Todas as coisas esperarão por ti,
            Sem te falarem,
            Sem lhes falarem.

                              
                           Cecília Meireles.


enviado por

Lidia Lievore

 

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Fogo

Sim, sei de onde venho! Insatisfeito com a labareda ardo para me consumir! Aquilo em que toco torna-se luz. Carvão aquilo que abandono. Sou certamente labareda!
(Friedrich Nietzsche)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Via Láctea

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso"! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora! "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las:
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".


Olavo Bilac

Reza

Tem que haver um espaço pra nós dois
onde caibam nossos amores,
nossos temores,
nossos dilemas.
Tem que haver pra nós uma tema
que fale de flores.
Tem que haver uma canção
de versos sofridos, amargos e doces.
Tem que haver uma oração
que fale de ciúmes, de saudades, de perdão,
que abençoe os beijos
e os desejos retumbantes.
Pra quando declinada ao fim do dia
passa ser a Ave-Maria dos amantes.


Flora Figueiredo


RECADO

Ao vento da noite sussurro
sete segredos; tudo que
tenho por fora tudo que tenho
por dentro, que o vento vá levando
minha sede de amor, pule cerca
pule sebes abra porteiras no mar
derramando meu recado nos quatro
cantos do ar...


Roseana Murray

Vinícius de Morais

"Muitos não compreenderão
Porque suas inteligências vão somente até os processos
E já existem nos processos tantas dificuldades...
Alguns verão e julgarão com a alma
Outros verão e julgarão com a alma que eles não têm
Ouvirão apenas dizer...
Será belo e será ridículo
Haverá quem mude como os ventos
E haverá quem permaneça na pureza dos rochedos
No meio de todos eu ouvirei calado e atento, comovido e risonho
Escutando verdades e mentiras
Mas não dizendo nada
Só a alegria de alguns compreenderem bastará
Porque tudo aconteceu para que eles compreendessem
Que as águas mais turvas contêm ás vezes as pérolas mais belas"

(Vinícius de Morais).




.
.

DE SOBREAVISO

POETA CASE LONTRA MARQUES

Abaixo um dos poemas do livro Movo as mãos queimadas sob a água:
.
(DE SOBREAVISO)
....
invado uma visão inventada,
cuja
instabilidade não prejudica
minha
elaboração,
pois a faço
nascer não do esforço,
mas
do fracasso
da precisão; uma visão
que
atiro ao atrito,
que
lanço à laceração;
uma visão
de que me destituo
para
a manter em constante
conflito,
em
constante
construção,
como
o murmúrio
a que me vinculo
quando
intrometo
o meu
desconhecimento,
a minha
insuficiência
no intervalo
de um tempo
dedicado — apesar de escasso —
à extensão,
tentando ver,
tentando
mastigar o que também
puder se doar,
depois
de penetrar o abandono,
a incompreensão,
o que
também
puder se expor
a um ritmo
quando
muito intuído,
que
nos sobreleva
enquanto
respiramos
apenas
coagidos



domingo, 14 de novembro de 2010

Charles Chaplin






Pensamos demasiadamente






Sentimos muito pouco

Necessitamos mais de humildade

Que de máquinas.

Mais de bondade e ternura

Que de inteligência.

Sem isso,

A vida se tornará violenta e

Tudo se perderá.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Qual é

 

 

Qual é

Qual é o sabor do amor?
Qual é o som do silêncio?
Qual é o toque do olhar?
Qual é o caminho do horizonte?
Qual é o cheiro do ar?
Qual é o som do adeus?
Qual é o sabor das estrelas?
Qual é a luz da escuridão?
Qual é a vontade do medo?
Qual é o olhar da cegueira?
Qual é o arrepio do calor?
Qual é o chamar do silêncio?
Qual é o molhar do seco?
Qual é o grito do ouvir?
Qual é o andar da montanha?
Qual é o correr do som?
Qual é o sabor da mágoa?
Qual é o grito da paixão?
Qual é o parar do rio?
Qual é a tristeza da alegria?
Qual é o som da saudade?
Qual é o chamar do vento?
Qual é o ferver do gelo?
Qual é o vazio do coração?
Qual é o sentir da música?
Qual é a força do perder?
Qual é o espaço do vazio?
Qual é o passo do universo?
Qual é o grito do abandonar?
Qual é a rendição da morte?
Qual é o sabor do respirar?
Qual é a fala da pele?
Qual é o sorriso da tristeza?
Qual é a felicidade da vida?
Qual é a tinta do branco?
Qual é o segredo do conhecimento?
Qual é a ternura do frio?
Qual é a carícia do bater?
Qual é o grito da mudança?
Qual é a pergunta da resposta?
Qual é a dúvida da certeza?
Qual é o som do desejo?
Qual é o cheiro do prazer?
Qual é a matemática do amor?
Qual é a luz do correr?
Qual é a razão do desconhecido?
Qual é o desenho do regresso?
Qual é o número da vida?
Qual é o toque do teu sentir?
Qual é o som do meu existir?


http://oladocultodamarciana.blogspot.com/

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Aurora

aspiro aurora que conduz a
doces deambulações
pelo mundo dos afectos
em manhãs tardes e suaves entardeceres
até ao ocaso final

matinal é o desejo
mas não a sua natureza intrínseca
pois essa é pertença de todos os tempos
percorrer esse cosmos
com o denodo de estóicos espíritos
todavia abertos
plenos de vida
cheios de si e dos outros
que não temem
muito menos aceitam
os dilapidadores éditos de terceiros
ou de recônditos lugares interiores

tentar o amor entre elementos contrários
arrostando na água amar o fogo
sim ousar o impossível
sim ousar falhar
sim ousar tentar ainda que perecendo na tentativa
lutar contra os quixotescos gigantes
que toldam a existência de papel quiçá
para por fim constatar
que mais não eram do que simples moinhos de vento

existir
no fundo somente viver
assentindo a concessão dos acasos
que compomos na busca do outro
de nós do outro em nós e de nós no outro
então talvez um vetusto lúgubre ocaso
dê lugar a uma novel aurora de veludo.


Rui Amaral Mendes
(Na luz do crepúsculo)

O baú de bandeira – Por Alfredo Lima



O presente poeta, escolhido para leitura é dono de uma vasta obra. A palavra vasta foi aqui empregada não só no sentido quantitativo, mas sobretudo, no que se refere à rica contribuição deixada a nossa cultura.
Aos 18 anos, o poeta obteve um terrível diagnóstico: tuberculose. Era o ano de 1904 e não havia cura para a doença. O então estudante de arquitetura viu-se forçado a abandonar a prancheta e a recolher-se à cama, sob o olhar amoroso e vigilante de sua irmã e enfermeira, Maria Cândida. Nas palavras do autor temos:
Continuei esperando a morte para qualquer momento, vivendo sempre como que provisoriamente. Nos primeiros anos da doença me amargurava muito a idéia de morrer sem ter feito nada: depois a forçosa ociosidade. Se publiquei em 1917 A Cinza das Horas, foi para, de certo modo, iludir o meu sentimento de vazia inutilidade.
Graças à ironia do destino, o nosso poeta estava equivocado. Imagina-se que viver esperando “a indesejada das gentes” não seja lá algo tão agradável. Felizmente, Manuel Bandeira conseguiu transformar a sua biografia em obra, sua vida em arte. O seu primeiro grande ato foi, de certa forma, prolongar os dias aqui na terra produzindo versos que mudaram os rumos da nossa literatura. Quanto aos outros traços que confirmam a genialidade de Bandeira, o leitor só descobrirá ao longo deste estudo.
Após a publicação do primeiro livro, A Cinza das Horas, Manuel Bandeira prosseguiu com a escrita de vários livros até a sua morte, em 1968. Parte dessa extensa produção é a antologia Meus poemas preferidos, que como afirma o título, foi organizada pelo escritor a convite das “Edições Ouro”, no ano de 1966.
O que posso adiantar é que estamos diante de uma obra marcada por uma “angustiante busca pelo significado das coisas, pela reflexão da poesia em si e pela falta de limites para o lirismo”. Vamos abrir o Baú de Bandeira e nele procurar a delícia de poder sentir as coisas mais simples! Boa leitura.

BANDEIRA: O SÃO JOÃO BATISTA DO MODERNISMO

“A obra de Manuel Bandeira engloba criações que vão de um pós-Parnasianismo e um Pós-Simbolismo às experiências concretistas das décadas de 1950 e 1960”. Tendo em vista essas considerações de Cereja, torna-se difícil enquadrar o poeta em apenas um estilo, uma vez que o mesmo tenha atravessado as mais significativas escolas literárias. E como resultado dessa travessia o leitor tem, por exemplo, o mestre do verso livre no Brasil.
A REALIDADE E IMAGEM
O arranha-céu sobe no ar puro pela chuva
E desce refletido na poça de lama do pátio.
Entre a realidade e a imagem, no chão seco que as separa,
Quatro pombas passeiam
NEOLOGISMO
Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora. (p.89)
Os dois poemas, que além de apresentarem versos que não obedecem a nenhuma métrica, ilustram o estilo “batizado” por Manuel Bandeira no país: o Modernismo.
No ano de 1922, morando no Rio, o poeta estava distante do grupo paulista que centralizava os ataques à cultura oficial e propunha mudanças. Mesmo tendo conhecido, um ano antes, Mário de Andrade, um dos maiores expoentes dessa escola, Bandeira preferiu “ficar na miúda”, ausentando-se da Semana de Arte Moderna. Essa falta foi compensada com o envio do famoso poema Os sapos, que, lido por Ronald de Carvalho, tumultuou o Teatro Municipal.
O texto possui o ritmo do coaxar dos tais anfíbios e critica os parnasianos, poetas extremamente formais. A plateia não gostou nada de ver esses elegantes poetas serem comparados a sapos e terem suas técnicas devidamente insultadas no poema, de modo que acompanharam a leitura coaxando, uivando, miando, enfim, foi uma confusão. Segundo os historiadores da literatura, houve um momento que um indivíduo mais exaltado do teatro começou a ganir muito alto. Quando Ronald terminou de declamar, disse: — “Senhores, há um cão na platéia, e ele não está do nosso lado!”
OS SAPOS
(…)
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: – “Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
(…)
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas …”
Urra o sapo-boi:
— “Meu pai foi rei!” — “Foi…”
— “Não foi!” —“Foi!” —  “Não foi!”
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
— A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
(…) p.40-42
Nessa mesma linha polêmica, encontra-se o texto “Poética” p.52, em que a voz poética banderiana rejeita o lirismo dos românticos por excesso de sentimentalismo, e o dos parnasianos pelo excesso de artificialidade: “— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.” Esses poemas se tornaram uma espécie de profissão de fé do movimento modernista. Aí sim, é possível a compreensão do título desse tópico. Em virtude do notável diálogo entre produção artística e contexto histórico, Mário de Andrade denominou  Manuel Bandeira de o “São João Batista do Modernismo brasileiro”.
BAÚ ABERTO
No livro Meus Poemas Preferidos são apresentados os temas mais comuns da produção de Manuel Bandeira, marcada pela experiência da doença e do afastamento advindo dela, são, entre outros, o cotidiano, a paixão pela vida, a morte, a solidão, a angústia existencial e a infância, tema que o torna um dos mais expressivos poetas da história da literatura.
1. Uma luz sobre o cotidiano
No Pão de Açúcar
De Cada dia
Dai-nos senhor
A Poesia
De cada dia
Oswald de Andrade
Os versos transcritos desta epígrafe cujo autor completa a tríade maior da primeira fase do Modernismo; Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Oswald de Andrade, enaltecem o cotidiano, temática muito explorada na poesia banderiana.
Tanto neste tema quanto nos outros listados na página anterior, o leitor vai se deparar com a simplicidade com que o poeta escreveu seus textos.
POEMA DO BECO
Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
— O que eu vejo é o beco. p. 63
O BICHO
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem. p. 90
Poema do Beco é um bom exemplo de texto da primeira geração modernista, isso em virtude da economia das linhas, o emprego do verso livre e é o que chamo de poema-cena.
Nesta mesma esteira, temos O Bicho, que consiste na imagem (cena) do eu lírico diante de um bicho “catando comida entre os detritos”. Além da simplicidade no tratamento dado à fome, percebe-se um olhar transfigurador do poeta, que choca o leitor com o seu “fazer poético”, ao transitar do campo denotativo para o conotativo, apresentando o último verso em tom de assombro: “ O bicho, meu Deus, era um homem.”
Ainda com base nesse olhar transfigurador do poeta, vamos encontrar um eu lírico solitário. Seria mesmo solidão? Não, Bandeira estava muito bem acompanhado. Afinal, ele foi iluminado pela Estrela da vida inteira:
A ESTRELA
Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.
Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?
E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia. p. 75
Não satisfeito com o diálogo entre o eu poético e a estrela, o leitor pode-se deleitar com mais um poema-cena em que a protagonista da vez, se é que assim podemos chamá-la, é a Lua. Esta que recebe um tratamento natural, bastante diferente daquele oferecido pelos poetas das escolas anteriores, e vem com uma leve dose de lirismo.
SATÉLITE
Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A Lua baça
Paira
Muito cosmograficamente
Satélite.
Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e dos enamorados.
Mas tão-somente
Satélite.
Ah Lua deste fim de tarde,
Demissionária de atribuições românticas,
Sem show para as disponibilidades sentimentais!
Fatigado de mais-valia,
Gosto de ti assim:
Coisa em si,
- Satélite. p.101

2. Infância: criação e fantasia

Eis uma peça muito valiosa no Baú: os poemas que se relacionam à infância de Bandeira. Mirrado, entre a doença e a solidão, o poeta criou, por meio da memória, uma espécie de paraíso perdido, a sua mitologia, que vai servir como uma válvula de escape para as agruras da vida.
os seis aos dez anos, nesses quatro anos de residência no Recife [...] construiu-se a minha mitologia, e digo mitologia porque os seus tipos, um Totônio Rodrigues, uma D. Aninha Viegas, a preta Tomásia, velha cozinheira da casa de meu avô Costa Ribeiro, têm para mim a mesma consistência heróica das personagens e dos poemas homéricos. [...] Quando comparo esses quatro personagens de minha meninice a quaisquer outros anos da minha vida de adulto, fico espantado do vazio destes últimos em cotejo com a densidade daquela quadra distante.
Este comentário de Bandeira, em Itinerário de Pasárgada, vai se confirmar com o poema “Evocação do Recife”p.54, versos que fazem uma descrição da cidade natal do autor no fim do século XIX.  É curiosa a forma como o eu lírico tece essas recordações, chamamentos. Na primeira estrofe, para apresentar a cidade, ele nega todos os adjetivos que já lhe foram atribuídos.
Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
— Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
Nesse mundo fantástico, o autor vai incorporar as brincadeiras da cultura popular, como Coelho sai da toca e Chicote-queimado.  E como personagens desse reino, o leitor vai encontrar alguns personagens da “mitologia bandeiriana”:
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era São José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo
Ao ajustar um pouquinho a lente, o leitor terá em “Evocação do Recife” diversas técnicas que firmam o poeta nas terras da linguagem modernista.  É o caso da linha a seguir, em que há uma enumeração caótica, num único verso, dos vários objetos arrastados pela água, que imita formalmente o caos promovido pelas cheias, que arrastam tudo de uma só vez:
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
Já quase no final da composição, mais uma estrofe que valoriza a espontaneidade da língua falada, proposta pelos modernistas. Trata-se de um ponto de vista que marca a evolução no tratamento dado à questão da língua.
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
Recife…
Rua da União…
A casa de meu avô…
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife…
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.
Nos últimos versos do poema, percebe-se uma certa tristeza do eu lírico em relação ao Recife da sua infância, pois com a morte do seu avô — um dos personagens centrais da mitologia da infância — ocorre também a morte da cidade que vivia na memória do poeta.
Há um outro poema-cena muito importante que não poderia ficar de fora dessa temática, “Porquinho-da-índia”:
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas . . .
— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada. p.53
A pesquisadora Clenir Bellezi de Oliveira, no ensaio “Moderno, lírico, genial”, assinala que
a simplicidade dos textos escritos por Bandeira não deve em nenhuma hipótese ser confundida com coisa rasa. Chegar a esse grau de depuração exige muita competência literária. Em “Porquinho-da-índia” temos um poemeto narrativo, onde o enunciador conta um episódio da infância que parece corriqueiro, mas que lhe deixou uma matriz emocional profunda. As coisas, os brinquedos e, claro, os bichos. O fascínio do menino pelo porquinho-da-índia devia aterrorizar o pobre animal. A diligência em querer agradá-lo, levando-o aos lugares que, aos seus olhos de criança, seriam os “mais bonitos, mais limpinhos”, certamente incomodava o bichinho de natureza arredia. Ele queria mesmo era “estar debaixo do fogão”, lugar quente que o mantinha longe das mãozinhas amorosas do dono. Daí a sentença do enunciador: “ – O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada”. Isso é verdade: na medida que involuntariamente o porquinho-da-índia recusa as “ternurinhas” do menino. Ele o seduz, para depois o abandonar. E, como sabemos, quanto mais o objeto do desejo negaceia, mais se intensifica o desejo. Tem-se aí a primeira lição de amor apreendida pelo enunciador.  p.24-25

2.1 “Lá a existência é uma aventura”

Isso mesmo. O título do tópico é um verso dos mais conhecidos poemas de Manuel Bandeira, Vou-me embora pra Pasárgada, p. 58. Vale lembrar que esse texto foi musicado por Gilberto Gil em 1986. Cereja assinala que Pasárgada é o mundo da liberdade, do permitido, da realização plena dos desejos, trata-se de lugar fictício inventado para dar vazão aos sonhos e às fantasias do poeta cuja realização foi cruelmente negada pela vida. Esse mundo imaginário ganha vida na explicação do seu criador:
“Vou-me embora pra Pasárgada” foi o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias [...] Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de findo desânimo, da mais aguda sensação de tudo o que eu não tinha feito na minha vida por motivo da doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!” Senti na redondilha a primeira célula de um poema, e tentei realizá-lo, mas fracassei. [...] Alguns anos depois, em idênticas circunstâncias de desalento e tédio, me ocorreu os mesmo desabafo de evasão da “vida besta”. Desta vez o poema saiu sem esforço, como se já estivesse pronto dentro de mim.
A criação desse outro mundo pode ser lida como o desejo do eu lírico de fugir da realidade concreta e experimentar outro tipo de realidade, idealizada, “Vou-me embora pra Pasárgada/ Aqui eu não sou feliz”. Lá, onde a existência é uma aventura, ele possui como vantagem estar acima de todas as leis, “Em Pasárgada tem tudo/ É outra civilização/Tem um processo seguro/ De impedir a concepção”; não há proibições, regras de lógica e de moral.
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
3. “Meu verso é sangue”
A esta altura de nossa busca, das páginas (re)viradas do admirável Baú, do olhar transfigurador do poeta para o cotidiano, das brincadeiras na infância, resta-nos dizer que o grande tema em Manuel Bandeira é o da morte: a Indesejada das gentes, o fim de todos os milagres — como registrou o autor.
A maneira como o escritor tratou esse aspecto muito nos impressiona. Bandeira deixou aos leitores a cena de um jogo, talvez a imagem de uma excepcional luta, em que ele driblou o adversário, escrevendo os mais enaltecedores versos. Dessa luta temos a mais clássica poesia da primeira fase do Modernismo.
No intuito de deixar mais claro esse tema, é interessante fazer uma leitura atenta do poema “Desencanto”, texto que abre o livro Meus poemas preferidos e curiosamente a coletânea “Melhores Poemas”, da editora Global:
Eu faço versos como quem chora
De desalento… de desencanto…
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente…
Tristeza esparsa… remorso vão…
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre. p. 35
A professora Ivete Walty apresenta no livro “Textos sobre textos” uma importante leitura desse poema no que diz respeito à metalinguagem:
O poeta, no ato mesmo de fazer o poema, expõe seu conceito de poesia, explicitando sua função catártica, ou seja, aquela de meio de vazão dos sentimentos, de alívio mesmo de sofrimentos. Fundem-se, em seus versos, a idéia de poema e vida e, paradoxalmente, a de representação da morte. Registre-se que, no caso desse texto, o poeta não se distingue do eu lírico, pois ele se declara o autor.
Assim, esse eu lírico/autor busca no poema transcrito a adesão do leitor visando a compreensão do código, aqui visto no sentido mais específico de concepção do poema. É como se o poeta quisesse fazer um pacto com seu leitor, dando-lhe uma chave do que entende por poesia naquele momento. p.16-17
A vida é um milagre.
Cada flor,
com sua forma, sua cor, seu aroma,
cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
com sua plumagem, seu vôo, seu canto,
cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
o espaço é um milagre.
O tempo, infinito,
o tempo é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
— Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres. p. 105.
No momento em que referi à imagem da luta, tinha em mente o poema acima, “Preparação para a Morte”, nele, o poeta, como afirma Clenir Bellezi de Oliveira, não deixava nada escapar e de tudo arrancava um lirismo comovedor sem jamais cair na pieguice. “A morte parece ter lhe dilatado o olhar para o permanente milagre da vida”.
Companheiros de viagem, confesso que depois de mexer nesses escritos, ajustar as lentes para algumas cenas da vida de Manuel Bandeira, vou ter que deixar o Baú, pois outras obras aguardam uma visita. Mas, por favor, deixe o Baú aberto para que o maior número de leitores possa conhecer a vida e a obra desse inestimável escritor. E a forma que encontrei para registrar a despedida foi deixando mais um poema para as ininterruptas descobertas no Baú de Bandeira.
Testamento
O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros – perdi-os…
Tive amores – esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Pro outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!… Não foi de jeito…
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino,
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde…
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo – suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
REFEREÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BANDEIRA, Manuel. Meus poemas preferidos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.
CEREJA, William Roberto. Português: linguagens: volume III. 4.ed. ver. E ampl. – São Paulo: Atual, 2004.
OLIVEIRA, Clenir Bellezi de. Moderno, lírico, genial. In: Discutindo Literatura. Ano 2 . nº 7.
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Sites
http://www.jornaldepoesia.jor.br/manuelbandeira.html
http://www.fabiorocha.com.br/bandeira.htm

fonte:

http://www.literaturaemfoco.com/