Um giro ao sol,ciranda poética

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Aurora

aspiro aurora que conduz a
doces deambulações
pelo mundo dos afectos
em manhãs tardes e suaves entardeceres
até ao ocaso final

matinal é o desejo
mas não a sua natureza intrínseca
pois essa é pertença de todos os tempos
percorrer esse cosmos
com o denodo de estóicos espíritos
todavia abertos
plenos de vida
cheios de si e dos outros
que não temem
muito menos aceitam
os dilapidadores éditos de terceiros
ou de recônditos lugares interiores

tentar o amor entre elementos contrários
arrostando na água amar o fogo
sim ousar o impossível
sim ousar falhar
sim ousar tentar ainda que perecendo na tentativa
lutar contra os quixotescos gigantes
que toldam a existência de papel quiçá
para por fim constatar
que mais não eram do que simples moinhos de vento

existir
no fundo somente viver
assentindo a concessão dos acasos
que compomos na busca do outro
de nós do outro em nós e de nós no outro
então talvez um vetusto lúgubre ocaso
dê lugar a uma novel aurora de veludo.


Rui Amaral Mendes
(Na luz do crepúsculo)

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