Um giro ao sol,ciranda poética

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Amor: o banquete dos sentidos – monólogo com Platão

Será o amor virtude? Ora, se virtude, qual ou quais?
Será o amor vício? Uma droga que consome, que abre fendas, fissuras da alma em chamas?
Será o amor carne, pele e ossos fustigados pelo látego da vontade?
Será o amor idealização? O ideal que permite ver no outro aquilo o que ele não é? Ou pousar no ser que se contempla os olhares da invenção sem limites?
Uma fantasia que se veste, revestida de pudores, querendo em troca a lascívia viva do tato e da invasão, diga-me tu, sábio que pensa e procura.
Será o amor um teatro piegas, tolo carnaval, ópera-bufa?
Será o amor uma busca? E se busca for, que caminho seguir?
Há placas e sinais a serem obedecidos? Dá-me tu os códigos para o bem amar, se há.
Será o amor o princípio de tudo, da pedra, do vento, dos oceanos, da chuva e de tudo que anda, respira e agradece? Será o amor o princípio em si mesmo?
Conduza-me errante pensador que as eras não apagam, peregrino homem invisível das ideias que ressurgem em mim. Preciso encontrar a senha deste sonho, que é sanha a queimar minhas entranhas, sede estranha de tanto querer!
Será isto o amor que sinto? Será aquilo que me proponho a cada despertar que a manhã ilumina? Será o amor a triste sina de quem vive?
Será que amar é o verbo que não se traduz? Decifra-me tu, oráculo vivente do tempo.
Será o amor o desejo de estar, não sendo, ou o ser, não estando?
Será o amor uma promessa aflita que da boca para fora é dita?
Será o amor desdita que pulsa?
Será o amor aquele poente? Será o amor distância? Uma ponte que se levanta a cada dia, cotidiana construção de afetos sem afetações? Será o amor as famintas horas a deglutir o já vivido, um eterno reinício de algo? Será o amor esta ausência que se sente?
Será o amor o domínio do discurso? Será o amor inocência, indecência e falência?
Será o amor mistério? Revela-me tu que tanto soube dos segredos que afligem o humano.
Será o amor feitiço em desencanto, frágil cristal que se quebra?
Será o amor tudo e ao mesmo tempo o nada? Será o amor o grito?
Será o amor este silêncio?
Só sei que tudo sou!
Nela...
[Aqui o homem ajoelha-se no centro do palco, mãos em concha, simula o cair das lágrimas do rosto que a máscara esconde]

Denison Mendes
fonte: http://confrariadostrouxas.blogspot.com/ 

Um comentário: