Um giro ao sol,ciranda poética

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

MAIS QUE UM POEMA

Não me fales de incêndios da alma,
Nem da linguagem dos amantes.
Antes, prova dos meus olhares
Do amor que só se sabe em ti.
Já me disse incontida, desmedida,
Quando sequer te percebes em mim.
Deixa que me confesse inteira,
Muito além da voz que supões.
Estou farta de emoções sussurradas
Pronunciadas no peito como cristal
Quero-te antes de qualquer palavra
Na entonação que apenas tu adivinhas

Não me digas de qualquer alvorecer
Onde não me trazes o sol, a ternura.
São teus olhos que me despertam
E me oferecem o aroma da vida.
É a doçura inquieta das tuas mãos
Néctar que veste os meus sonhos.
O dia que vejo é este em que me tomas
Quando vens antes de mim e dos sentidos
Quando me confidencias tuas saudades
E os caminhos em que me levaste
Em tuas ausências consentidas.

Não me fales de aritméticas
Dessa memória incisiva do tempo.
Meu coração desconhece algarismos
E contagens que afastam e distanciam.
Prefere-se a juntar passos, estradas
Desaprendeu dos números, da lógica
Entende-se somente em interseções
Compreende que pontos podem ser ligados
E assim, abraça-se descobrindo retas
Somando urgentes encantos e afinidades.

Não pressuponhas as rasuras de minhas dores.
Nada sabes dos abismos dos meus silêncios,
Quando o sentir é açoite pelo não expresso.
Tenho marcas palpáveis, cuja agonia e soluço
Só me sabe o escuro em que mergulho.
Apenas adentra as portas que te abro.

Anda devagar, como se deitasses em pétalas.
Não me peças para diluir na taça do impossível
Os sonhos, os desejos, os tolos tremores
Que transbordam insones em luas prateadas.
Não me ofereças o véu do comedimento
Para cobrir a alma, a carne, os sentidos

Sim, continuarei a te fazer versos,
Ainda que te conjugue imperfeitamente
Neste meu desassossego de letras,
Tropeçando em rimas, ébria de metáforas.
Mesmo que não alcance o lume dos teus sonhos,
A profundidade do que tua alma abriga,
Deixarei o eco deste amor que me guia
Na fragrância do dizer da minha poesia.
Bebo-te nesta taça até o último trago
Onde vezes te derramas quase meu...


- Fernanda Guimarães -

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